Quais são os cuidados que devem ser tomados na execução de um sistema VRF?

 


Muitos instaladores que estavam acostumados a trabalhar somente com split passaram a visualizar um horizonte melhor de lucro ao trabalhar com sistemas VRF. Infelizmente, essa mudança não veio acompanhada de treinamento ou cuidado na instalação, levando a obras executadas fora dos padrões aceitáveis para o equipamento, ocasionando muito prejuízo e insatisfação para os clientes.
Os sistemas split costumam aguentar bastante desaforo nas instalações, isso acarreta diversas necessidades de manutenção corretiva ao longo da vida útil. Dessa forma, a percepção do cliente não costuma ser imediata, levando-o a culpar o fabricante, em vez do instalador.

Nesse ponto, o conhecimento sobre as boas práticas de instalação de sistemas VRF, o treinamento e atualização contínua da equipe técnica, o credenciamento nos fabricantes, a aquisição das ferramentas corretas e a inspeção diária das atividades são pré-requisitos para o sucesso da instalação. Sistemas VRF bem instalados costumam operar por anos continuamente, sem maiores intercorrências. Ao passo que sistemas que apresentam problema no start up, dificilmente passam do primeiro ano de operação sem manutenção corretiva e a causa raiz costuma ser algum deslize durante a instalação.

Mas, quais então seriam as recomendações para uma boa instalação?

Projeto de Ar condicionado + Software de seleção

Uma carga térmica bem dimensionada, cuidado com todas as possíveis interferências na passagem do cobre, bom dimensionamento de dutos e detalhes de projeto condizentes com os que serão utilizados na obra são essenciais como pré-requisitos para iniciar uma obra tendo a certeza que tudo que poderia ter sido previsto foi levado em conta, restando apenas as imprevisibilidades comuns de qualquer obra. Outro ponto importante é o uso correto da ferramenta de seleção oferecida por cada fabricante, pois o documento de seleção serve como norte para garantir que o projeto está sendo seguido e validado ponto a ponto. Nesse documento estarão os equipamentos que foram projetados, tipos de derivadores, distâncias e bitolas de cobre, sendo assim um bom resumo de como a obra deverá ser refletida no final de todas as etapas e uma boa ferramenta para auxiliar no levantamento de custo da instalação, mesmo antes de começar todo o processo.

Infraestrutura de cobre

O meio de interligação entre as unidades condensadoras e unidades evaporadoras deve ser um par de linhas de cobre. Essas linhas deverão ser isoladas separadamente com espuma elastomérica para garantir que não haja perda de calor com o ambiente (atenção especial para as emendas) e deverão estar suspensas em suportes rígidos (preferencialmente a cada 1 metro) para garantir que o peso próprio não crie deformações na linha. Um detalhe importante é que nos pontos de suporte se faz necessário algum dispositivo para evitar que haja esmagamento do isolamento, reduzindo sua eficiência. Alguns fabricantes definem limites entre qualquer acidente (derivador, curva, etc) requerendo algum trecho reto para homogeneização do fluido refrigerante. Como padrão, a recomendação é que exista, pelo menos, 500mm de trecho reto para que essa acomodação do regime de escoamento possa ser feito. Isso garantirá a eficiência energética do sistema de ar condicionado e a longevidade dos componentes mecânicos.


Solda com nitrogênio passante

As unidades evaporadoras dos sistemas VRF possuem válvulas de expansão eletrônicas com tolerâncias de passagem muito pequenas. Pequenos óxidos de cobre (carepa) formados durante o processo de brasagem com presença de oxigênio podem ficar presos ao corpo da válvula impactando seu funcionamento. Para evitar esse efeito, faz-se necessária a inertização da solda através de um fluxo constante de nitrogênio no interior das linhas que estão em processo de brasagem. Além disso, mesmo usando nitrogênio, alguns instaladores ainda vão além fazendo flushing (limpeza) com nitrogênio ou até mesmo recirculação de R-141b até que não haja mais nenhum tipo de impureza na linha.


Teste pressostático de integridade das linhas

Como garantia para a segurança da ocupação, todas as linhas de cobre devem ser pressurizadas com nitrogênio até a pressão de teste recomendada de acordo com o fabricante do cobre. Costuma-se usar, normalmente, pressões entre 500-550 psi para teste. Esse teste deve ser executado por, pelo menos, 24h e deve levar em conta a variação de pressão devido a diferença de temperatura de bulbo seco entre os dias testados. Variações acima de 10% costumam indicar vazamentos e devem ser remediadas imediatamente. Para achar o ponto de vazamento, um sensor de gás halógeno costuma ser útil, apesar de não ser muito comum nas instalações no Brasil, que ainda utilizam o ineficiente método da bolha de sabão para descobrir a posição do vazamento.


Processo de desidratação - Vácuo

Esse é o ponto central de uma instalação de VRF. Sistemas com excesso de gases não-condensáveis (umidade, por exemplo) dentro da linha são potenciais candidatos a problemas no start up. Consideramos um vácuo bem feito quanto ele pode ser sustentado abaixo de 500 microns com a bomba desligada por mais de uma hora. Novamente, caso o vácuo suba e/ou não consiga ser mantido sem a bomba desligada, isso pode indicar vazamentos na linha. Considerando que o teste pressostático foi bem executado, o culpado costuma ser o flange de conexão com as unidades internas. Lembrando que após o procedimento, o sistema estará liberado para a carga adicional de gás refrigerante que deverá ser feita utilizando o valor previsto no projeto "as built" e o uso de uma balança de precisão para garantir a carga.


Comissionamento e Start up

Esse processo, geralmente, requer a presença do fabricante para acompanhar as fases finais da instalação. Aqui deve ser verificada se correntes, tensões e temperaturas estão de acordo com os parâmetros que definem o funcionamento, conforme projeto do equipamento. Considerando que os parâmetros das unidades externas estejam dentro do esperado, um bom método para a aprovação final da instalação seria avaliar se, após 30 minutos de operação em temperatura de setpoint mínima (forced cooling) com os ambientes fechados, as temperaturas de insuflamento estão entre 10-13ºC e o delta (diferença entre insuflamento e retorno) está maior que 12ºC. Caso todas as boas práticas tenham sido seguidas e esses parâmetros sejam comprovados, a obra pode ser dada como entregue e a satisfação do cliente estará garantida.

Existem muitos outros detalhes de instalação que não foram comentados acima, mais informações detalhadas podem ser obtidos nos manuais de cada fabricante. Porém, esses são os pontos que eu considero prioridade para garantir o sucesso de uma instalação de sistema VRF.

Por: David E. Cruz Rodrigues


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